25 janeiro 2010

II Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura (II CONPDL)

"Ética e Estética da Existência" será o tema do II Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura (II CONPDL), a se realizar de 28 a 30 em Nova Lima - MG.

Ética e Estética da Existência


O tema do II Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura (II CONPDL) será Ética e Estética da Existência.

A obra de Michel Foucault servirá de mote aos autores convidados para elaboração de temas em torno da relação que o sujeito estabelece consigo mesmo, isto é, com a ética e a estética da existência. A obra do referido autor, especialmente sua produção posterior a 1976, isto é, a partir da História da Sexualidade, nos auxilia a pensar a questão da ética contemporânea pelo menos de duas maneiras. A primeira tem quatro aspectos: (1) O que é a substância ética alvo dos cuidados e dos saberes relevantes ao julgamento ético? (2) Como se dão os modos de sujeição às regras e obrigações morais? (3) Quais são as atividades auto-transformadoras ou trabalhos éticos que o sujeito exerce sobre si mesmo para se transformar num sujeito ético? (4) Qual é a finalidade, o telos, o modo de ser ao qual o indivíduo aspira se comportando eticamente? Já a segunda forma de se conceber a ética, Foucault sugere pensá-la como interseção entre a história da subjetividade e a análise das formas de governamentalidade.[1]

Pensar a ética por esses dois caminhos ajuda a aproximá-la da estética. É nesse sentido que Foucault propõe a noção de artes da existência que são “práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente se fixam regras de conduta, como também procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos critérios de estilo.”[2]

Psicanálise, Direito e Literatura podem se articular para nos auxiliar não só a tornar visíveis as artes da existência contemporâneas mas também contribuir para pensar em novas formas de vida possíveis. Além disso, essa articulação transdisciplinar também tem função crítica de apontar para o recalcamento e a violência dirigidos à formas de vida outras, não desejadas ou excluídas.

A noção de estética da existência coloca questões fundamentais para o direito, pois ela faz pensar numa “maneira de viver em que o valor moral não provém da conformidade com um código de comportamentos, nem com um trabalho de purificação, mas de certos princípios gerais no uso dos prazeres, na distribuição que se faz deles, nos limites que se observa, na hierarquia que se respeita.”[3] Nossa moral, portanto, está muito além – e aquém – das leis que regem nossas condutas. Estabelecer as relações entre esses dois campos ainda é uma tarefa que se impõe.

Também no que tange à psicanálise, a estética da existência interessa sobremaneira. Pois, já no curso A Hermenêutica do Sujeito, Foucault lança uma provocação: a psicanálise é uma espiritualidade.[4] Por espiritualidade, Foucault entende as práticas que postulam que, tal como ele é, o sujeito não é capaz de verdade, mas que a verdade é capaz de transfigurar e salvar o sujeito. Além disso, esses saberes articulam de tal forma o ser do sujeito e a verdade que o sujeito só tem acesso à sua verdade se transformando. O privilégio aqui é do cuidado de si de forma generalizada e não apenas do conhecimento de si. De fato, trata-se de um desafio instigante, ainda pouco estudado no Brasil, avançar a hipótese da psicanálise no campo do cuidado de si.

Finalmente, a literatura é não apenas uma das tecnologias através das quais o sujeito se constitui numa obra de arte, mas também é um dos lugares no mundo contemporâneo a que temos acesso a modelos de vida. A escrita de si-mesmo é apenas uma forma de se pensar essa articulação. A princípio, o II CONPDL convida a todos a pensar a ética e a estética da existência sob as muitas perspectivas possíveis a partir dessa visada transdisciplinar entre a psicanálise, o direito e a literatura.
A seguir, sugerimos apenas alguns temas para os autores que desejam escrever trabalhos para o Congresso:
a) Direito e Parrésia: teorias da argumentação.

b) Psicanálise, Direito e Literatura: cinismo e verdade.
c) Cuidado de si e a emancipação política.
d) O teatro grego e a parrésia.
e) A verdade e a parrésia na Psicanálise.


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[1] Cf. Davidson, Arnold I. Ethics as ascetics: Foucault, the history of ethics, and ancient thought. In The Cambridge Companion to Foucault. 2nd. Ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2005: 123-143.

[2] Foucault, Michel. História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres. Trad. Ma. Thereza da Costa Albuquerque. 8.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1984: 15.

[3] Castro, Edgardo. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Trad. Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica, 2009: 150-1.

[4] Foucault, Michel. L’Herméneutique du sujet: cours au Collège de France (1981-1982). Paris: Gallimard, 2001: 31.

Fonte: http://www.conpdl.com.br/?p=200

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