06 março 2010

No caminho, um tamanduá.

Ontem à noite, voltando das aulas no campus, dirigindo na via pouco iluminada, uma visão escura, sinuosa e baixa, me fez reduzir a velocidade. De longe, parecia uma pessoa deitada, arrastando-se da calçada para a pista. Olhando mais de perto, vi do que se tratava: um enorme e belo tamanduá bandeira. Vinha das matas que cercam o quartel do Exército e começava a atravessar uma das pistas de sentido único.
Parei e encostei o carro, liguei o pisca alerta, e aguardei que, lentamente, a criatura atravessasse as duas pistas. Estava disposta a proteger a sua passagem, ficando de prontidão para tentar fazer parar os carros que por ventura se aproximassem naquele momento. Não suportaria a idéia de ver o belo animal ser atropelado, como tantos outros tamanduás que, com frequência, encontramos mortos na BR entre Rio Verde e Jataí. Mas não foi necessário. Por sorte, nenhum outro veículo passou por ali naquele momento. E o grande tamanduá, alheio à minha presença, atravessou as duas pistas em segurança, para desaparecer nos terrenos baldios situados ali em frente.
Fico imaginando o que foi feito do animal, que outros perigos correu, em sua busca por formigas, se foi molestado por algum morador do bairro ou por algum cão. Ainda guardo chocada a triste lembrança do caso da ema, a ema que entrou na cidade numa manhã – de outubro, se não me engano, do ano passado. O pobre animal foi perseguido incessantemente pelas ruas de Jataí por agro’mens e agro’boys em suas caminhonetes velozes. Ao que parece, ninguém tomou a iniciativa de acionar o corpo de bombeiros para um resgate especializado. A corrida atrás da ema virou uma grande farra. E a visitante inusitada acabou morrendo de exaustão, com as asas sob os pés de um dos seus perseguidores. E o caso, que poderia ter virado tema de um grande escândalo na cidade, passou apenas como um episódio pitoresco. Um triste fim para um dos mais belos exemplares da fauna silvestre do cerrado.
Mas, êpa! Cerrado? Que cerrado? Por todo lado, até perder de vista, predomina a paisagem monótona do deserto verde da soja e da cana-de-açúcar. Uma paisagem onde o único verde que conta é o do Dólar norte-americano, onde os únicos animais apreciados são os impressos nas notas de Real.
Porém a vida silvestre, apesar de perseguida e confinada, dá mostras de que teima em não ir embora. Outro dia, enquanto dirigia com destino ao campus, pouco antes da rodoviária, vi algo arrastar-se cruzando a BR, bem na ponte sobre o Córrego Jataí. Quase não acreditei. Era um jacaré. Por um milagre, não foi atropelado. Mais rápido que o tamanduá, cruzou a pista e escondeu-se no mato à beira do córrego. Espero que ainda esteja vivo.

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