01 outubro 2010

Reitor da UNILA falou sobre a experiência de criação da universidade de vanguarda no país

Plano de fundação da Unila vai orientar projeto UnB em reestruturação


Reitor da Universidade Federal da Integração Latino Americana falou sobre a experiência de criação da instiuição de vanguarda no país

Thássia Alves - Da Secretaria de Comunicação da UnB

"Pela primeira vez uma universidade nasce na linha da fronteira. E não só na fronteira física, como também na epistemológica. É um campo a se desvendar". Foi com essa frase que o reitor José Geraldo de Sousa Junior encerrou o discurso de abertura da palestra O projeto da Unila e as universidades paradigmáticas brasileiras, nesta quinta-feira, 30 de setembro, no auditório da Reitoria.

A Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila), criada em janeiro deste ano em Foz do Iguaçu (PR), tem um projeto inovador: a integração entre povos da América Latina.
Hélgio Trindade, reitor da Unila, veio à UnB para mostrar a experiência de fundação da universidade. A ideia é que essa experiência contribua com o projeto UnB em reestruturação, que tem como objetivo discutir e estabelecer novas diretrizes políticas, pedagógicas e institucionais (PPI) para a Universidade de Brasília. “Tenho a convicção que a UnB dará um salto qualitativo com a refundação”, afirmou o reitor.

Dentre as experiências da Unila, está a consulta a diversos especialistas de vários países sobre como poderia ser a universidade. “Foram sete perguntas respondidas por 50 pessoas de todo mundo, que estavam dispostas a contribuir com a proposta da universidade internacional”, conta Trindade. O resultado dos questionários foi discutido na Unila e acabou se transformando em um livro, intitulado A Unila em Construção.

José Geraldo destacou perguntas que devem ser feitas durante a elaboração do projeto da UnB. “Devemos nos questionar sobre qual universidade queremos. Quais são as nossas expectativas?”.

O reitor da Unila fez um alerta sobre projetos de reestruturação. Segundo ele, é preciso que a implementação seja feita da mesma forma como o projeto foi concebido. “Não basta ter um belo plano ou uma concepção inovadora. É necessário que toda academia esteja de acordo com o projeto”, acrescentou. Hélgio contou ainda que durante a elaboração do projeto tiveram momentos de conflito e grandes discussões. “A cada reunião tínhamos uma temática nova. O importante é que no final todos estavam consensualmente tranquilos”, afirmou.

VANGUARDA – Hélgio também falou sobre as dificuldades de implantação de uma nova instituição de ensino superior. Os primeiros 45 funcionários da Unila integrarão os quadros neste mês. Segundo ele, até agora a Universidade depende de alguns poucos funcionários terceirizados. “Não tenho secretária. Se tem algum problema no fim de semana quem vai resolver? Eu, o vice-reitor, os pró-reitores”, conta. “Ainda assim vivemos essa experiência de maneira gratificante”, completou.

Atualmente, a Unila conta com 200 alunos, sendo 100 estrangeiros. A Universidade não possui vestibular. Os brasileiros são selecionados por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e para aqueles que vêm de outras regiões foi criado um acordo com o Ministério da Educação (MEC): uma nota de corte é estipulada para cada curso da Unila e as notas do ensino médio dos alunos pautam a admissão.

Além disso, foi preciso definir os princípios pedagógicos da Universidade. “O que é currículo, o que se ensina, quais os eixos temáticos? É uma dificuldade determinar o que vamos escolher para gerar conhecimento”, afirmou Hélgio. Segundo levantamento feito pela Unila, há uma repetição nas disciplinas oferecidas pelas universidades. “Não precisamos de um engenheiro que vá construir casas. Precisamos de alguém que vá ampliar a ligação entre os países, que possa construir pontes e estradas”, disse.

A instituição começou com a criação de um Instituto de Estudos Avançados, com uma proposta interdisciplinar. “Não há departamentos. Boa parte das atribuíções dos chefes de departamento, que podiam fazer poucas coisas, foram passadas para o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão”, explicou.

Nos dois últimos semestres dos cursos, os alunos vão para campo trabalhar gratuitamente a serviço da sociedade. O argumento é simples: eles recebem a formação sem custos, logo devem devolver para a sociedade, que os custeou o ensino. É o chamado serviço civil obrigatório. “Eles são cientes disso e sabem o quanto são privilegiados por poderem estudar”, contou.

A Universidade Federal da Integração Latino Americana foi criada para ser uma universidade sem fronteiras, abrangendo o nordeste da Argentina, o leste do Paraguai e o oeste brasileiro. Além disso, a Unila foi pensada para interagir com as 22 instituições públicas da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM) e com as demais universidades públicas distribuídas no continente.

AUTONOMIA – Hélgio afirmou que as universidades ainda estão distantes do ideal de autonomia. “Essa questão é o nosso calcanhar de Aquiles, é a letra morta da constituição. Temos que dizer que, dentro das possibilidades, é preciso valorizar aquilo que achamos mais importante, independente do Estado”, disse o reitor quando questionado sobre as verbas que são liberadas pelo governo, mas que precisam ser repassadas para projetos que estão de acordo com as determinações do Ministério da Educação (MEC).

José Geraldo destacou que um dos papéis das instituições de ensino é auxiliar o Estado na construção desse pensamento. “O que perturba não é o quanto de interferência há, mas sim o quanto as universidades podem contribuir para mudar o Estado”. “Temos que construir para fora sem esquecer do diálogo entre nós mesmos”, completou.

Publicado originalmente pela UnB Agência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário