08 junho 2012

Crônica de uma rebelião: A deflagração da greve no Campus da UFG em Goiânia

No texto abaixo, as circunstâncias da deflagração da greve do Câmpus de Goiânia da UFG são narradas pelo professor Jamesson Buarque, coordenador do curso de Letras, testemunha ocular dos acontecimentos. Num ato histórico e admirável, os colegas da UFG, com o apoio discente, se organizaram e fizeram valer a vontade da classe dos professores, a despeito das ações esdrúxulas do sindicato que deveria representá-los. O vídeo acima registra o momento em que a diretoria da ADUFG, após tentar restringir a participação na assembléia apenas aos filiados, e ante os protestos dos docentes e discentes presentes, abandona o local , momento em que a assembléia passa a ser conduzida e deliberada pelo conjunto dos professores presentes, com o apoio dos alunos.(*)

GREVE DEFLAGRADA PELOS DOCENTES E DISCENTES DA UFG-GOIÂNIA

Jamesson Buarque
Em movimento flagrante de desmobilização política, a ADUFg tentou, desde ontem (05/06/12), confundir os docentes da UFG-Goiânia com mudança de local de sua assembléia. Às 21:00 h. o sindicato mudou o local de realização da assembléia acordado para ocorrer hoje, 06/06/12 no IME, para a EMAC. No entanto, ainda hoje (06/06), vários professores receberam mensagens via celular confirmando a assembléia no IME, embora a mesma já tivesse sido alterada para a EMAC. A desmobilização não logrou êxito, e lá estivemos em um gesto histórico para UFG, com mais de 400 docentes e também mais de 400 discentes. Contudo, a ADUFg não se deu por vencida, e vendo o auditório da EMAC lotada e com o ânimo diferenciado de suas intenções, tentou impedir a realização da assembléia.

A mesa diretora da ADUFg em pretexto de solicitação pediu que discentes, e PIOR, que docentes não filiados ao sindicado se levantassem das cadeiras. A despeito de a totalidade dos filiados terem erguido sua ficha de votação exigindo o início da assembléia, a presidente do sindicato se recusou atender seus próprios filiados. Eu estava lá entre tantos, e assim como meus pares, não estava preocupado em estar sentado ou em pé. Logo, todos nós queríamos a assembléia. Mas a diretoria da ADUFg se recusou em realizá-la. Como se isso fosse pouco, por um instante, indo para área externa ao auditório, vi, LAMENTAVELMENTE, a mesa de entrada da assembléia, dirigida pela ADUFg com discurso de proibição da entrada de professores não filiados ao sindicato no auditório. A mesma mesa gritava contra os discentes que apoiavam a maioria docente, ameaçando-os com a polícia, como se o gesto político estudantil fosse um crime
De modo tão desrespeitoso quanto RIDÍCULO, a mesa de entrada do auditório da EMAC, dirigida pela ADUFg disse a vários docentes não filiados: Vocês não podem entrar porque o que ocorrerá lá dentro não tem nada a ver com vocês. Isso como se o cenário de crise nacional da educação pública federal fosse problema apenas de filiados da ADUFg, e não de toda a comunidade acadêmica brasileira, bem como de toda a sociedade. A diretoria da ADUFg, demonstrando-se INCAPAZ de representar a classe docente da universidade - discriminou vários docentes, tão professores quanto todos nós filiados, quando CRIMINALIZOU a movimentação estudantil, que, além de legítima, exercia seu indicativo de apoio à greve docente. Esse apoio foi aprovado ontem, 05/05/12, à tarde, em assembléia estudantil ocorrida no IME.
De resto, também LAMENTAVELMENTE, armou-se uma confusão com agressão física no interior do auditório. Sobre isso, principalmente para quem compra as falsas declarações da ADUFg, pode flagrar no vídeo quem realmente agrediu quem. E como, em total desrespeito não somente a todos os filiados do sindicato que lá se encontravam, mas principalmente a toda comunidade acadêmica da UFG, a presidente da ADUFg simplesmente - sem ser tocada por ninguém, observem bem o vídeo - recolhe seus papéis e bolsa e se retira do recinto sem dar a menor satisfação aos presentes. Acrescente-se a isso que ela já havia ignorado a manifestação dos filiados para que a assembléia fosse iniciada independentemente de quem estava sentado ou em pé.
Ainda assim, em um ato político próprio da democracia, a assembléia, que deveria ser dirigida pelo sindicato, foi assumida pelos docentes com apoio dos discentes. E com base nesse ato, alijado na convocação realizada, foi deflagrada greve dos docentes da UFG-Goiânia. A meu ver, o cenário ganhou um corpo ainda mais apropriado, pois a greve foi deflagrada não pelo sindicato, mas por uma assembléia de docentes, com mais de 400 de nós lá presentes, os quais se somam aos demais campi da UFG - de Catalão, de Jataí e de Goiás - já em greve.


(*) Professores Marcos Menezes (História) e Rosane Lacerda (Direito) - Campus Jataí da UFG

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