15 novembro 2012

O VIII Congresso da Relaju


VIII Congresso da Rede Latinoamericana de Antropologia Jurídica – Relaju: "O pluralismo jurídico na América Latina: Visões críticas da teoria e da pratica"
Foto: Rosane Lacerda
 
Xavier Albó (*)
Segunda-feira, 29 Outubro de 2012
No evento foram debatidos os avanços e desafios no rico diálogo entre advogados e antropólogos.
Neste momento escrevo de Sucre, horas após o encerramento do VIII Congresso da Rede Latinoamericana de Antropologia Jurídica (Relaju), que reuniu naquela cidade centenas de representantes da Bolívia e toda América Latina, além de delegações de outros países europeus e norte-americanos, para debater os avanços, retrocessos e desafios num rico diálogo entre advogados e antropólogos, funcionários públicos e representantes de movimentos sociais, sobre tudo indígenas, dentro dos múltiplos esforços que se estão realizando em todo o continente para lograr estados mais inclusivos da diversidade.
Desde a segunda-feira 22 de outubro, se viu na cidade todas as pessoas que circulavam do Arquivo Nacional ao Museu Etnográfico e da Biblioteca Nacional ao Teatro Gran Mariscal, para participar em algum dos cinco cursos e 190 conferências em 30 mesas ou simpósios, com nove salas simultâneas e duas sessões plenárias. A compilação apenas dos resumos previamente enviados das 190 exposições chegou ao volume de 171 páginas.
A oitava versão desse Congresso foi realizada pela primeira vez na Bolívia e especialmente em Sucre, capital do Estado Plurinacional e sede do Poder Judiciário que demonstrou novamente seu encanto e acolhida para este tipo de atividades. O evento ofereceu também uma boa oportunidade para intercâmbios com diversas instâncias do Poder Judiciário, incluindo um curso prévio com membros dos tribunais, aproveitando a presença de importantes especialistas internacionais.
É impossível resumir os intercâmbios realizados nestes dias, mas como uma pequena amostra para os que queiram saber mais sublinharei apenas um ponto central: viu-se ser muito necessário, e, por outro lado, o difícil que é mudar o direito positivo, todo bem escrito e regulado, e os múltiplos direitos indígena-originários emergentes nas comunidades e que hoje, na Bolívia e Equador, já têm igual nível constitucional. Em um ágil colóquio com nosso ex-presidente (primeiro da Corte Suprema e depois também do Estado) Eduardo Rodríguez Veltzé, e o professor brasileiro Fernando Marés, se comparou ao primeiro com um complicado jogo de caixas, cada qual com sua etiqueta, recursos e contratos; e ao segundo como um conjunto de globos de todas as cores, com grande mobilidade e flexibilidade. Como tecer (não encaixar nem menos encaixotar) um e outro? É como uma nova versão 3D do velho problema da “quadratura do círculo”, que ademais deve verse como um filme, cheio de episódios e processos no tempo.
Várias mesas analisaram o assunto partindo da perspectiva do direito positivo, ressaltando a importância de abri-lo para mais além da mera positivação, enfatizando mais os grandes valores éticos do que as receitas muito detalhadas. Outras mesas partiram mais dos esforços que fazem diversos povos indígenas, desde o México ao Chile, passando pelo Brasil; e – graças ao sólido apoio do Ministério de Autonomias – com participantes de muitas autonomias indígenas originárias locais, mostraram seus esforços para que suas cosmovisões fiquem plasmadas, sem perder sua essencial flexibilidade, nos estatutos que devem ser aprovados pelo Tribunal Constitucional Plurinacional. Quer dizer, gera-se ali a tendência inversa: “positivar” o seu direito... Um dos mil desafios tratados nesse Congresso.
(*) Xavier Albó é antropólogo, linguista e Jesuíta.
Tradução livre de Rosane Lacerda
Clique aqui para acessar o texto original no site de CIPCA

Nenhum comentário:

Postar um comentário