06 dezembro 2012

Comunicação Indígena

Colômbia: Avança o debate sobre a comunicação indígena.

Neste ano de 2012 vêm sendo realizadas diversas iniciativas no continente no marco do Ano Internacional da Comunicação Indígena. A mais recente delas foi o Foro Nacional de Comunicação Indígena da Colômbia, cujo tema central foi: “Para uma política pública diferenciada de Comunicação e Informação a partir dos povos”. Mais de 700 participantes participaram do Foro, que se realizou na cidade de Popayán, Cauca, de 26 a 30 de novembro.
“Reafirmamos o caminho da palavra desde os povos e regiões com o compromisso de fortalecer os processos comunicativos próprios a nível local, regional e nacional na perspectiva de articular tecidos, redes e alianças entre povos e processos de comunicação indígena”, destaca o Pronunciamento (*) adotado no encerramento do evento. E de fato este Fórum foi precedido de um processo nacional que incluiu encontros prévios em três macro regiões do país, para ampliar a participação e preparar a agenda.
O Pronunciamento advoga por uma política pública diferenciada, “entendida no sentido de que deve respeitar a construção normativa e autônoma dos povos indígenas, de acordo com suas características territoriais, políticas, sociais e culturais, gerando e garantindo os recursos especialmente para a implementação e execução dos processos e meios de comunicação próprios”.
 
Vicente Otero, comunicador do Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC), um dos organizadores do Fórum, precisou em entrevista à ALAI que de fato, mais que apenas uma política pública, se falou em reivindicar uma política de Estado, por ser esta “muito mais ampla em todas as dimensões do trabalho e da responsabilidade”. De fato, realçou, “o tema da comunicação nunca tem feito parte das agendas do governo nem mesmo dos dirigentes indígenas, nem de nossos governantes indígenas. Sempre o vêem mais como instrumento. Mas temos visto os mesmos comunicadores posicionando a comunicação, mais que como um instrumento, como uma posição política”.
Otero destacou que no Fórum havia uma coincidência muito grande de que a comunicação parte do princípio da identidade dos povos. Isso inclui “o fortalecimento das línguas originárias como princípio retor da comunicação; a comunicação e cosmogonia, os espaços de articulação entre homem e natureza através da medicina tradicional, e a cosmovisão dos povos. Está o tema da formação, como formar quadros: não informadores, senão comunicadores com responsabilidade comunitária”, assinalou. E agregou que também se viu que é urgente elaborar uma proposta de agenda legislativa, em alguns temas: “um é o tema da sustentabilidade, o governo tem que comprometer recursos do orçamento nacional para a comunicação. Outro é o das medidas de garantias cautelares; nós fazemos jornalismo em nossas comunidades e ficamos muito vulneráveis ante os grupos armados. Também há a questão da exoneração de qualquer tipo de impostos; nossos meios cumprem uma função social, não entendemos por quê nos cobram por fazer um trabalho social. Essa cobrança deveria ser voltada mais para os que não estão fazendo agenda social, como os meios comerciais”, acrescentou.
Em seu Pronunciamento, o Fórum reconheceu quatro princípios da comunicação indígena:

Autonomia dos processos de comunicação, baseados na Lei de origem e Espiritualidade dos povos indígenas.  Resistência para consolidar esses processos autónomos e seus processos de informação, educação, reflexão, decisão e ação. Articulações entre povos e processos através de mutirões de pensamento e ação para a defesa do território coletivo com os povos. E o valor da palavra e pensamento, para comunicar criticamente a palavra do povo e para o povo.
Ainda assim, reivindicou uma política de comunicação para “a consolidação de redes de caráter regional, nacional e internacional indígenas e com outros setores sociais para a visibilidade e impulso de ações e campanhas em defesa dos territórios e da vida, e das potencialidades dos povos indígenas, e contra a discriminação, a violência e a guerra”.
Rumo à II Cúpula Continental
A designação de 2012 como o Ano Internacional da Comunicação Indígena foi uma decisão da 1.ª Cúpula Continental de Comunicação Indígena, realizada em novembro de 2011, também em Cauca. Otero destacou que “entre as tarefas que a primeira Cúpula deixou está a de exigir aos governos a adoção de políticas públicas”, na qual se tem realizado esforços durante o ano. Por exemplo, se interveio ante o Fórum Permanente para as Questões Indígenas da ONU, em Nova York, onde se conseguiu marcar a importância do tema da comunicação, o qual não constava na agenda dos mesmos indígenas especialistas que integram esta instância. E isso permitiu que a comemoração na ONU, no passado 9 de agosto, do Dia Internacional dos Povos Indígenas, se referisse ao Ano Internacional da Comunicação Indígena. Também os comunicadores indígenas atuaram junto aos chefes de Estado do continente na Cúpula das Américas, em Cartagena (abril), entregando recomendações aos mesmos, assinalou Otero.
O Fórum Nacional colombiano foi também uma oportunidade para uma troca de ideias sobre a segunda Cúpula Continental, que se realizará em Oaxaca, México, no mês de outubro de 2013. Tem sido realizado esforços para ampliar a convocatória da Cúpula, que esta vez incluirá a América do Norte, que enviou dois delegados ao Fórum em Popayán. Desta maneira, o Pronunciamento do Fórum colombiano assinala que, com a II Cúpula, se espera “fortalecer os laços de comunicação entre todos os povos indígenas do continente para construir e desenvolver uma agenda comum que articule e potencie nossos esforços continentais, com vistas a avançar no exercício do direito à comunicação, como expressão da autodeterminação de nossos povos, assim como de um plano de libertação da palavra”
- Sally Burch / ALAI / Minga Informativa de Movimientos Sociales

(Tradução para o português - Rosane Lacerda)

(*) Ver o texto do Pronunciamento em:
http://movimientos.org/foro_comunicacion/show_text.php3?key=21899

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