09/08/2012
Fonte:
SEDUFSM
O
Coordenador de Inovação Tecnológica do Ministério do Planejamento, César
Augusto de Azambuja Brod, se negou a cumprir orientações do governo de cortar o
ponto de funcionários em greve e pediu exoneração do cargo na semana passada.
Em carta divulgada pelas redes sociais, que também está no site do Sindicato
dos Servidores Federais (Sindsep-DF), Brod alega que não cumpriria uma
determinação que feria seus princípios.
Conforme
Brod, “o PT patrão parece não ter aprendido com sua própria história. O PT
patrão apenas aprimora as táticas de pressão psicológica e negociação
questionável daqueles com os quais negociou na época em que a greve era sua.”
Em sua carta, ele diz ainda que “como coordenador, jamais cortarei o ponto
daqueles que trabalham comigo e estão em greve. Independente da greve, eles
cumpriram seus compromissos civis sempre que necessário”.
A
postura assumida pelo ex-coordenador de Inovação Tecnológica recebeu apoio
maciço dos servidores vinculados ao setor ao qual ele chefiava. Em nota, os
funcionários manifestaram solidariedade através de “carta aberta”. Em um dos
trechos eles se referem às determinações governamentais:
“A
determinação do governo no corte do ponto dos grevistas agride em sua essência
a crença na liberdade de manifestação das pessoas e no direito do trabalhador
de reivindicar melhorias em suas condições de trabalho e os consequentes
resultados entregues à sociedade por meio dos atos dos servidores públicos
federais”. (Leia abaixo, no anexo 2, a íntegra da 'carta aberta')
Foi
ressaltado na carta também o fato de que a
orientação superior para que seja feito a lista dos grevistas e procedido o
desconto no salário contraria decisão do Poder Judiciário, ferindo liminar
concedida por juiz da 17ª Vara da Seção Judiciária do DF e mantida pelo
presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª região.
Clique aqui para ver esta matéria no site da fentect
Veja a carta de César Augusto de Azambuja Brod:
O
PT como patrão
“Orientação
sobre a folha de ponto dos servidores em greve. Informo que, seguindo
orientação superior do MP, os grevistas deverão ter os pontos cortados, desta
forma não deverá constar nenhuma observação na folha de ponta dos servidores
que estão de greve e não registraram o ponto. Já aqueles servidores que estão de
greve e mesmo assim registraram o ponto deverão ter seus pontos cortados (anulados)
já que não trabalharam. Quanto aos servidores que estão trabalhando normalmente
e que não puderam trabalhar no dia 5 de julho por causa da greve dos ônibus
podem ter seu dia abonado, código 05.”
Sou
coordenador geral de inovações tecnológicas do departamento de sistemas de informação
da secretaria de logística e sistemas de informação do ministério do planejamento,
orçamento e gestão do governo do Brasil. Estou neste cargo desde setembro de
2011. Hoje comunico, publicamente, meu pedido de exoneração.
Todos
sabem qual é meu salário graças à Lei de Acesso à Informação. Preciso deste salário
e, de fato, tenho orgulho em merecê-lo. Mas a partir do momento em que tenho que
ferir meus princípios para manter minha remuneração, meus princípios sempre ganharão
o jogo, independente do que virá depois.
Trabalho,
há bastante tempo, com o conhecimento livre e modelos de negócios baseados nisso.
Em Porto Alegre, no final dos anos 1990, tive o prazer de ver um projeto de governo
crescer levando em conta a crença em que a liberdade ampla para todas as formas
de conhecimento era um fator gerador de inovação tecnológica e de criação de emprego
e renda. Apoiei esse projeto mas nunca integrei nenhum quadro do governo até setembro
de 2011, quando assumi o cargo acima mencionado, e passei a ser o responsável
pelo Portal do Software Público Brasileiro, pela Infraestrutura Nacional de Dados
Abertos, além de outras atividades.
Não
foi fácil, vindo da iniciativa privada e há mais de doze anos como empresário, aprender
a hierarquia e a burocracia que são parte de um emprego público. Aliás, esse é um
aprendizado constante. Mas segui trabalhando com minha paixão: liberdade de conhecimento
como geração de inovação e riqueza.
No
decorrer de meu trabalho deparei-me com a greve do funcionalismo federal, à
qual aderiram muitos dos que estavam sob minha coordenação. Enfrentar uma greve
como executivo público foi algo totalmente inédito para mim. Acompanhei greves
desde o tempo de meu avô, no surgimento do PT. Toda a articulação para as
greves, para a criação de uma força que mudasse o estado, conscientizou uma
população que colocou o PT no poder. Mas o PT patrão parece não ter aprendido
com sua própria história. O PT patrão apenas aprimora as táticas de pressão
psicológica e negociação questionável daqueles com os quais negociou na época
em que a greve era sua.
O
PT patrão virou governo, melhorou o país e acha que não depende mais da máquina
que sustenta o estado. O PT patrão, que fez muito pela nação, tem a certeza de
que vai muito bem sozinho. E está indo mesmo!
Eu
espero que nosso país siga melhorando, mas estou nele para mudá-lo e não para cumprir
ordens com as quais não concordo. Como coordenador, jamais cortarei o ponto daqueles
que trabalham comigo e estão em greve. Independente da greve, eles cumpriram
seus compromissos civis sempre que necessário. E, na greve, cultivaram ainda
mais sua união na crença da construção de um Brasil melhor.
(César
Augusto Brod, responsável pela Coordenação Geral de Inovação Tecnológica da
Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão).
Cliqueaqui para acessar esta carta (em pdf)
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