02 setembro 2012

Memória e Verdade: mais sobre o caso do Padre Henrique




Restos mortais do Padre Henrique ao lado dos de dom Helder
Publicado em 27/05/2012
Assassinado pela ditadura militar, no dia 27 de maio de 1969, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, na época assessor de dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, foi citado ontem (27/05) como “Mártir da Igreja de Olinda e Recife” durante a festa de Pentecostes, celebrada, domingo à tarde, no Pátio do Carmo, centro do Recife, com a presença de mais de 30 mil pessoas.
A menção foi feita pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, que anunciou, antes da celebração da missa, que no dia 27 de agosto próximo (aniversário da morte de dom Helder Câmara), a Arquidiocese de Olinda e Recife vai enterrar os ossos do padre Henrique – que se encontram hoje no C Cemitério da Várzea – ao lado dos restos mortais de dom Helder e de dom José Lamartine (bispo auxiliar de dom Helder) ao lado do altar-mor da Igreja da Sé, em Olinda, em local especial que está sendo preparado.
“Dom Helder ficará no meio. À sua direita, dom Lamartine, à esquerda, o padre Henrique”, afirmou dom Fernando Saburido, sendo intensamente aplaudido pelos fiéis. O arcebispo falou ainda da coincidência da festa de Pentecostes ter sido celebrada exatamente 43 anos após o assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto.
Segundo relato do Grupo Tortura Nunca Mais (Rio de Janeiro), padre Antônio Henrique foi coordenador da Pastoral da Arquidiocese de Olinda e Recife quando foi assassinado no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife.

“Professor e especialista em problemas da juventude, desenvolvia atividades junto ao arcebispo dom Helder Câmara. Por sua destacada posição, firmemente contrária aos métodos de repressão utilizados pelo governo militar, tendo como destaque a missa que celebrou em memória do estudante Edson Luiz de Lima Souto, padre Antônio Henrique passou a receber constantes ameaças de morte por parte do chamado CCC (Comando de Caça aos Comunistas). No dia 26 de maio, padre Henrique foi seqüestrado, por este mesmo CCC. Seu corpo foi encontrado, no dia seguinte, em um matagal existente na Cidade Universitária do Recife, pendurado de cabeça para baixo, em uma árvore, com marcas evidentes de tortura: espancamento, queimaduras de cigarro, cortes profundos por todo o corpo, castração e dois ferimentos produzidos por arma de fogo”.
“No inquérito aberto no Tribunal de Justiça de Pernambuco para apurar as circunstâncias da morte de padre Henrique, foram acusados como responsáveis pelo seqüestro, tortura e morte Rogério Matos do Nascimento, delegado Bartolomeu Gibson, investigador de polícia Cícero Albuquerque, tenente José Ferreira dos Anjos, da Polícia Militar, Pedro Jorge Bezerra Leite, José Caldas Tavares e Michel Maurice Och”.
“Entre as testemunhas de acusação estavam a mãe do padre Henrique, Isaías Pereira, e uma investigadora de Polícia, Risoleta Cavalcanti, que acusaram as pessoas acima mencionadas, não só por este assassinato, mas também pelo metralhamento que deixou paralítico, em 1969, o líder estudantil recifense Cândido Pinto de Melo”.
“Segundo o desembargador Agamenon Duarte de Lima, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, “há provas da participação do CCC no assassinato do padre Henrique, mas é possível que também esteja implicado no episódio o Serviço Secreto dos Estados Unidos, a CIA.”
“Do inquérito, resultou o arquivamento. Nenhum dos acusados foi condenado, apesar dos testemunhos e provas irrefutáveis”, conclui o relato do Grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro.

Postado por Paulo Sérgio Scarpa

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